Monday, March 14, 2011

Energia

Mais uma vez, há muito tempo que não escrevo no blog. Lamento.


Como todos sabemos, as coisas não estão fáceis para ninguém: o último texto que postei data de uma altura em que me afundei bem fundo na depressão do desemprego. Foram precisos meses para voltar a encontrar um trabalho. Pensei que ia perder tudo por que trabalhei desde que voltei de Espanha. Passei seis meses sem sair de casa, porque simplesmente não tinha sequer dinheiro para beber um café. Pensei: se nem um café posso beber, então para quê sair?


Quando comecei a trabalhar de novo, em Novembro, eu já nem sabia o que era conversar em voz alta com uma pessoa. Já não sabia o que era apanhar um autocarro. Já não sabia o que era apanhar ar, ver gente, contribuir para a sociedade. A minha mente esteve sempre muito activa, mas tornei-me numa eremita por necessidade. E penso que só agora é que começo a regressar a uma certa normalidade, ainda que condicionada pelo que me rodeia. E todos nós sabemos o que é isso...


Por outro lado, preocupava-me o facto de escrever num tom demasiado pessoal, falando de coisas que me acontecem na primeira pessoa, como que expondo a minha intimidade para a net. Confesso que não me sentia confortável, e que procurava uma forma de o fazer mais 'literária', para me proteger. Eu não sei quem lê as minhas palavras, mas talvez o 'quem' não seja o mais importante, mas sim as circunstâncias do 'quem'. E, por causa disso, porque mesmo escrevendo em tom de ficção, não consigo separar o 'eu' do 'outro', assumo o medo e vou em frente. Se eu não falar sobre mim, não tenho palavras para ajudar outros que por aí andam e que podem encontrar consolo nos meus textos, da mesma forma que eu encontro consolo em escrevê-los.


No Sábado passado, dia 12 de Março, houve uma onda de energia que fez vibrar a nossa sociedade. Eu estive lá, com a minha 'luzinha' acesa e, pela primeira vez na vida, senti orgulho em pertencer aqui. Deu-se um passo enorme em direcção à evolução global: milhares de indivíduos esqueceram todas as suas diferenças e concordaram com algo. Bastou uma coisa e 300 mil pessoas ergueram-se. Foi bonito, muito bonito...


Foi aí que percebi que não adianta ter medo. Todos nós estamos expostos, em carne viva, desde o momento em que abrimos a boca ou olhamos para algum lado, até ao post inocente que colocamos no Facebook. Se todos nós estamos expostos, se todos nós estamos ligados, de que tenho eu medo então?


O momento presente exige muito mais do que política. Aliás, não exige política nenhuma. Exige que sejamos cidadãos, pessoas antes de tudo o mais, e de bom-senso. Exige coragem, optimismo e sermos capazes de nos esticarmos para além das nossas barreiras físicas. Exige sermos mais do que somos normalmente. E não me refiro apenas a Portugal: estou a falar do movimento da pontinha do dedo que faço enquanto bato nas teclas, até ao amor que sinto pelas pessoas.


Pessoalmente, estou a mudar. Circunstâncias pessoais forçaram-me a encarar essa necessidade, e então optei por seguir este caminho. Um passo detrás do outro. Mas estou a mudar... aquela energia colectiva mostrou que muitas outras pessoas também estão a mudar. Para onde quer que nós, enquanto indivíduos, formos, que seja para algum lugar onde sejamos melhores...

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