Tuesday, January 19, 2010

Três noivos para Carolina

Carolina entra na carruagem do metro, e senta-se no primeiro lugar vago que encontra. São sete da tarde, e ela tira os auscultadores da mala. Liga o leitor de música, e olha para o nada, enquanto o metro começa a sua marcha em direcção à Avenida de Roma.

O que é que ela tem de especial? Absolutamente nada.
É uma rapariga com quase trinta anos, morena, de olhos castanhos, nem alta nem baixa, nem gorda nem magra. Não é excepcionalmente extravagante na forma de vestir: umas saias aqui, um chapéu acolá, um colar e uns brincos, algumas cores berrantes, outras menos... Não é rica, mas também não é pobre (pensa: desde que tenha dinheiro para comer e ir ao cinema...)e não tem um emprego fabuloso, mas também não demasiado chato (secretária de um professor universitário que passa a maior parte do tempo a viajar, estilo Indiana Jones). Carolina quer o mesmo que toda a gente: que o céu não lhe caia em cima da cabeça.

Mas, como toda a gente, ela tem algo de excepcional, algo que leva a que se escreva sobre ela como se fosse a heroína de um grande romance, digno de vencer o Prémio Nobel. E, quando ela pensa no que a torna única, ela ri-se para dentro, soma e segue.

Carolina tem três namorados. Não um, nem dois – três.

Pedro é modelo. De acordo com a profissão que tem, é um deus grego, moreno, de olhos verdes penetrantes, sempre pronto para entrar nas vidas das pessoas numa imagem sensual dele mesmo. Pedro pode – e tem – toda e qualquer mulher que ele queira. No entanto, para ele, não há nenhuma mulher como aquela miúda de nariz empinado, meias pelo joelho e sardas. Carolina.

Joaquim é um homem muito entrado nos seus quarenta anos, um bocado gordo, mas cheio de energia e de uma presença magnética. Extremamente inteligente, gere uma carreira feita de actividades variadas, mas não tem amigos. Excepto aquela mulher que o mete no lugar e não o leva a sério. Carolina.

Jorge é o pobre dos três. Anda em busca de um rumo, e salta de trabalho precário em trabalho precário. É aquele tipo de pessoa em quem ninguém repara, mas quando se dá conta de que ele está lá, nunca mais se esquece. Tem um sentido de humor incrível, só que também mergulha em crises de melancolia, tão depressa como arranca uma gargalhada. E como ele gosta das gargalhadas de Carolina...

O que é que estes três homens têm em comum, para além de estarem ligados à mesma pessoa? A incapacidade de se comprometerem.
Carolina diz que isso não lhe importa, porque ela sabe que jamais vai conseguir encontrar alguém que goste verdadeiramente dela e que esteja disposto a estar com ela para sempre. Assim, tem um homem em três, e diz que nunca se aborrece.