Friday, December 18, 2009

All I need is a little time

Hoje, entre amigos, saíu-me uma das minhas pérolas:

“Cuidado com aquilo que desejas, porque se pode tornar realidade. Quando se torna realidade, muitas vezes chegas à conclusão de que não é aquilo que queres. A vida dá-nos aquilo que precisamos, não aquilo que queremos. Sabes porquê? Porque, na maior parte das vezes, aquilo que queremos não é nada daquilo de que precisamos.”

Eu sei. Estar vivo é o contrário de se estar morto.

Contudo, se for a pensar bem, este pensamento poupa-me uma data de frustrações. Querer que uma determinada pessoa repare em nós, querer um determinado trabalho, ou querer um determinado estilo de vida, podem não ser coisas de que precisemos realmente. Isto não tem rigorosamente nada a ver com não se ter desejos e ambições: é muito saudável lutarmos pelos nossos objectivos. Mas ainda é mais saudável, acho eu, sabermos apreciar o que conseguimos, e sobretudo, saber-se apreciar a jornada até lá chegarmos.

Quanto à história de que aquilo que desejamos se torna realidade, e de como isso é perigoso...eu tenho de dizer que não uma história. É verdade.
Quantas vezes desejei coisas – e pessoas – com tanto ardor e, quando o consegui, apercebi-me de que afinal não era nada daquilo que queria. Ou que precisava. Também houve as vezes que não atingi esses objectivos, e ao fim de algum tempo, cheguei à conclusão de que tinha sido muito melhor assim. Claro que também houve as vezes que consegui, e estava certa. Se não fosse assim, não estava aqui, agora, a escrever sobre isto. O que tenho, o que consegui, até agora, é perfeito.

Muitas vezes, não soube simplesmente apreciar a viagem. Sentada no comboio, estava demasiado ansiosa pela mudança que não olhei pela janela para ver a paisagem. Não tive capacidade para ir até ao bar e beber um café, escutando o ruído da carruagem, observando quem me acompanhava, gozando o ambiente que me rodeava. Por isso, perdi uma parte fundamental do processo. A mudança é isso mesmo, um processo, e um que dói imenso. As decisões pagam-se caras, porque nunca se sabe o que aconteceria se tivessemos virado à direita, naquele momento, em vez de termos virado à esquerda. Só que elas têm de ser tomadas, e se isso implicar saltar do comboio em movimento, pois então que pelo menos não morramos na tentativa...

Eu quero muitas coisas, como toda a gente. Queria ter mais dinheiro (toda a gente quer mais dinheiro, mesmo que não lhe faça falta), queria poder fazer destas brincadeiras da escrita um trabalho a tempo inteiro, com dinheiro (lá está ele outra vez, o vil metal!), queria poder ter uma vida que me deixasse plenamente satisfeita, quem sabe até um par de putos a correr pela casa, com um pai decente para me aquecer nas noites frias de Inverno (não falemos das noites quentes de Verão, que isto passa já a ser um post XXX)...

Do que é que eu preciso? De tempo.
Preciso de tempo para trabalhar, tempo para estar com as pessoas de quem gosto (isso inclui os meus bichos), tempo para cultivar plantas aromáticas, tempo para cozinhar, tempo para viajar, tempo para gostar de alguém – e para deixar que alguém goste de mim - , tempo para pensar, tempo para escrever, e acima de tudo, tempo para organizar a minha vida neste espaço e neste tempo. Um ano em qualquer parte do mundo não é nada. Uma existência até aos 80 anos não é nada, no universo. Quando olhamos para o céu à noite, e vemos uma estrela, estamos a ver o seu brilho de há milhões de anos atrás. O que é isso? Quase nada... logo, o que são 80 anos, quando nos últimos cinco ou dez anos, estamos fisicamente corrompidos – ou pior, mentalmente corrompidos?

Dizem que o mundo acaba em 2012. Ao que consta, todos os calendários ancestrais terminam no dia 21 de Dezembro do dito ano, um solstício de Inverno, porque a vida, tal e qual como a conhecemos, vai deixar de existir. Eu encolho os ombros e penso que são apenas profecias, mas admito: sinto o friozinho na barriga. Não me agrada a ideia de o mundo acabar quando eu tiver 32 anos, quando ainda tanto está por fazer, por dizer, e por sentir. Claro que a coisa pode dar para o outro lado, o que quer dizer que vão nascer muitos bebés em 2013, a julgar pelas orgias que, segundo consta, estão preparadas para a fatídica data. Também pode ser que nós, humanos, estejamos destinados a deixar de existir assim de repente – pode ser que seja aquilo de que precisamos. Decerto que o merecemos.
Eu gosto mais de pensar que, se assim for, pode ser que tenhamos a possibilidade de poder existir num outro plano, onde possamos ser outro tipo de seres. Melhores, mais piedosos, mais merecedores...

As minhas entranhas dizem-me: preciso de tempo. E, das duas uma: ou de tempo para estabilizar, ou de tempo para preparar a minha próxima fuga. Ou pego nos meus projectos e na minha casa e faço aquilo que preciso de fazer, ou então vou ao Google Maps, escolho um sítio ao calhas e desapareço. Começo de novo, outra vez. Tento ser uma pessoa melhor, tento não cometer os mesmo erros, e renasço. Essa tem sido a minha especialidade, vezes e vezes sem conta. Terei tempo para descobrir se vale a pena ficar, ou partir?

Uma pessoa respondeu de uma forma totalmente eloquente ao pensamento que partilhei:

“Eh pah, mas eu tenho tantas coisas em casa que não me fazem falta nenhuma!”

Eu respondi:

“Quem sabe se um dia não te acontece alguma coisa em casa, e precisas de dar uma de Macgyver para salvares a tua vida, e na volta são essas coisas das quais não precisas nada que te safam?”

Saturday, December 12, 2009

Contemplando aquilo que podia ter sido, ou as linhas paralelas


Às vezes, fecho os olhos, e imagino: vejo as linhas paralelas dos comboios, e voo por cima delas, rasando, as linhas que são sempre as mesmas, mas sucedendo-se, para sempre. É um filme que nunca termina, o das linhas dos comboios. É uma viagem cujo destino é desconhecido, mas que tem um sentido: sempre em frente.

Alguém me disse, um dia, que as linhas se cruzam no infinito. No entanto, com os meus conhecimentos (esquecidos) de rectas e de geometria, parece-me que isto é uma impossiblidade. As linhas estendem-se até ao infinito, mas o cruzar-se é uma ilusão de óptica. Mas os carris cruzam-se algures no tempo, isso é verdade. Cruzam-se quando há mudanças no caminho, curvas e contra-curvas, como opções tomadas pelo viajante que rola por aquelas linhas fora.

Cada um de nós é um par de linhas. Somos linhas paralelas que nos estendemos para sempre, e que de vez quando, nos cruzamos com outras linhas, nas curvas e contra-curvas das nossas decisões. Há paragens, sobressaltos, pedras no caminho, abrandamentos e acelerações. Mas seguimos, um comboio de ferro e de vapor, sempre em frente. E, tal como nos cruzamos com outras linhas, delas nos separamos para seguir a nossa viagem solitária.

Penso assim. Vejo o filme das linhas paralelas, interminável, aparentemente sempre igual, frame depois de frame, sem tempo definido. Sinto as mudanças, as curvas e elas surpreendem-me, muitas vezes. No entanto, por mais que queira olhar para trás, e tentar perceber de onde venho – onde começou a viagem – parece que apenas uma pergunta permanece: onde me vão levar estas linhas?

Não vejo a paisagem. Imagino cidades industrializadas, pequenos apeadeiros esquecidos, florestas, campos, o deserto... contudo, tudo o que importa são aquelas malditas linhas que nunca se cruzam, ou cujo toque dura apenas uns segundos. O filme rola, a câmara filma, e o tempo passa, impiedoso, pesado, o fumo do comboio que se escapa. Tudo se escapa, quando se encontra.

Na escala cósmica, como me dizia alguém – não o mesmo que achava que as linhas se cruzam no infinito, eu conheço muita gente que diz muita coisa... - as nossas vidas não passam de uma espécie de suspiro. Qualquer porcaria de estrela vive muito mais tempo do que um ser humano, e com certeza que não se queixa tanto. Por isso é que quando fecho os olhos e vejo aquelas linhas paralelas, não fico triste. É uma viagem, a nossa viagem. Pode ter curvas, contra-curvas, pedras, ervas daninhas, um suicida ocasional, mas todas essas coisas são nossas e, mesmo que as percamos quando a linha nos troca o passo, nada nos pode tirar as recordações.

Há que se aceitar essa simples realidade: não importa que as linhas se cruzem no infinito ou não. Elas correm juntas, lado a lado. E entrelaçam-se ao sabor das opções da viagem. Porquê lamentar que continuem a seguir lado a lado e não se toquem mais?

Somos linhas paralelas. O resto não interessa nada...



Friday, November 13, 2009

Facebook = regime totalitário?

Olá,
já lá vai algum tempo que não tenho escrito aqui, por motivos pessoais e profissionais. Claro que andava à procura de uma desculpa para postar algo com significado, e os deuses hoje foram benevolentes comigo: a partir de duas fontes muito diferentes, fui confrontada com uma realidade (virtual, mas que não deixa de ser bem REAL) que sinto que devo divulgar, para que possamos todos pensar um bocadinho no que se anda a passar por aí. Apertem os cintos e vamos viajar ao maravilhoso mundo do Facebook.

Há quem ame, há que odeie, há quem não queira saber. Mas o facto é que o FB está em todo o lado, e como voyeurs, cyberstalkers ou simples curiosos, todos nós por lá andamos. Nem que seja por interposta pessoa...
Eu confesso que gosto do FB, porque me permite estar em contacto com amigos que estão longe, espalhados pelo mundo; é uma ferramenta social que me dá informação relevante; é uma plataforma que me permite ter uma visibilidade a nível artístico que, noutras circunstâncias, seria complicada; e sim, onde posso publicar as minhas patacoadas. E vivam as patacoadas de toda a gente, porque temos direito a isso!

Contudo, como em todo o lado, o FB parece ter um lado negro. Por um lado, sei de muito boa gente que começou a viver para esta rede social e que acha que patacoadas é igual a percepcionar a vida dos outros através delas. Aí, ponho-me à margem: seguir a minha vida pelo FB - ou a dos outros - é uma ilusão, porque a minha vida processa-se ao nível da REALIDADE, e sempre se processará, enquanto eu sair de casa para ir trabalhar, estar com amigos, beber um café, ou simplesmente para ir passear o cão. É certo que, sociologicamente falado (e sou leiga nesse aspecto), estamos cada vez mais isolados, mas mais próximos em termos tecnológicos. Não é uma coisa que me agrade particularmente, porque enviarem-me um abraço virtual NUNCA SERÁ o mesmo que me abraçarem em pessoa.

Portanto, por um lado, aconselho-vos a verem este pequeno filme: http://www.youtube.com/watch?v=xzTgIdNW6lg . Pela parte que me toca, tendo em conta como eu me vejo, e tendo em conta também que ando nestas lides das comunicações virtuais há mais de dez anos, o FB, o Second Life e outras coisas que tais são, para mim, formas de expandir a minha sociabilidade e não SUBSTITUTOS da minha vida social. Sou uma miúda que estudou Jornalismo, que se interessa pelos mecanismos da comunicação, e que adora todo o tipo de teorias relacionadas com, mesmo que sejam da conspiração. Melhor, PRINCIPALMENTE SE SÃO DA CONSPIRAÇÃO! Digo que quero lá saber se corporação X ou Y sabe qual é a minha cor preferida, porque as coisas que são realmente importantes partilham-se na vida real, com gente real. No entanto, se há pessoas que já passaram a fronteira - e que as há, há - então é preciso ter cuidado, tal e qual como não revelamos o nosso código do multibanco a ninguém. A meu ver, é uma questão de bom-senso...

Agora, por outro lado:
um amigo do FB - amigo de uma amiga, ex-colega de faculdade - comunicou-me hoje que o FB lhe cancelou a conta sem aviso prévio, PELA SEGUNDA VEZ. Como eu não o conheço pessoalmente, logo a minha percepção dele é meramente via FB, o que eu posso concluir é o seguinte: esta pessoa tem postado e tem-se associado a grupos que têm opiniões controversas a nível religioso. Eu discordo dele em alguns pontos, mas entendo que qualquer plataforma de comunicação deve permitir a livre expressão, DESDE QUE TAL NÃO OFENDA OS OUTROS. Sendo uma pessoa espiritual, devo dizer que, pessoalmente, nunca me senti ofendida pelas suas posturas, porque acredito que a fé é algo que também brota da discussão entre seres humanos inteligentes - tal como a política ou o futebol, com as devidas distâncias.

Portanto, ao que parece, o FB cortou-lhe a conta porque ele se tem manifestado contra fundamentalismos, e tem feito activismo ateu. O QUE É ISTO??

Entendo que, tendo em conta o aspecto lúdico do FB, se calhar não é negativo ter-se um bocado de cuidado com activismos políticos e religiosos. No entanto, acho fundamental que o FB também seja uma forma de exprimirmos as nossas crenças, uma vez mais, desde que isso não ofenda os outros. Tenho a certeza de que há grupos satânicos, seitas, neo-nazis, sociopatas, psicopatas, racistas e xenófobos no FB que postam barbaridades e violência todos os dias. E acredito que os censores do FB nada façam contra isso. Porque, afinal, o FB é um espaço social supostamente livre - onde fotos de mães a amamentar bebés são motivo para cancelamentos de contas. Convenhamos, talvez não seja a imagem mais interessante para postar lá, mas então não há fotos de perfil que são completamente pornográficas, mesmo estando a pessoa completamente vestida? É pecado dizer palavrões nos nossos muros? Não posso não gostar do meu governo e dizer isso se quiser?

Hoje, abriu-se um precendente na minha mente em relação ao FB. Fiquei sinceramente de pé muito atrás em relação a pertencer a esta rede social, porque este tipo de realidades choca-me, tal como me chocou ver o Existenz e o Matrix - imaginar que ando a dormir e a alimentar uma máquina é terrorífico. E se isto não fizer as pessoas acordar, pensar e tornarem-se um bocadinho mais activas, então se calhar começo mesmo a acreditar que é melhor construir uma espécie de Arca de Noé e meter-me lá dentro, porque isto daqui a uns anitos rebenta. Mesmo que não me importe nada que uma ou várias corporações me tentem vender coisas por saberem qual é a minha cor preferida.

Só por causa disto, vou mas é arranjar-me, sair, estar com gente e fazer coisas longe do pc. E viva a sexta-feira 13 :-)

Friday, October 16, 2009

Sem título II

Sometimes, it's hard
to be
real
whole
sensible

and fashionable

all at the same time.

It would be easier
if I was just
quiet
a closed clam
if I would just break all the mirrors
that reflect the exact opposite
of who I am

I have to feel
warm
strong
safe

all on my own

Are we really the people who rule the world?
Or is it the world that rules us?

Monday, October 12, 2009

Estaca Zero

Admitir a dor.
Assumir o sentimento de culpa.
Perceber que, que queiramos ou não, a vida não se compadece das nossas decisões, mas que não se pode simplesmente fugir para a frente.
Curar as feridas.
Dar um tempo para elas sararem.
Amar o passado, e nunca esquecer quem não nos esquece.
Aprender para dentro.
Fazer listas de tarefas e cumpri-las.
Não mentir ao próprio.
Escrever sobre o assunto.

Esta é parte da minha Estaca Zero, o ponto em que recomeço realmente a minha vida depois da ruptura. Vai ser um bocado como deixar de fumar: acho que vou andar de mau-humor e que não vou ser a melhor companhia para ninguém. Não vou ser fabulosa, porque não me sinto minimamente fabulosa – embora tenha umas roupitas novas que enfim :-)

Sei que vão haver pessoas que se vão afastar, e na verdade, não as censuro. É mais seguro para nós mesmos fugir de um comboio prestes a descarrilar, do que ficar à espera de ver se o maquinista o consegue controlar. Na mesma posição, até eu fugiria de mim! É possível que diga coisas parvas, ofensivas, ou que seja mal-interpretada. Não vou andar por aí a mostrar-me, porque não tenho nada para mostrar. Não há razões para celebrar, nem para ir beber copos.

A parte da lista correu bem, hoje. Mas, a parte da lista que tinha a ver com trabalho, nem por isso. Ser a minha própria chefe é muito complicado – trabalhar em casa É extraordinariamente complicado. Confesso que ainda não me sinto preparada para enfrentar o mundo do freelance, mas também sei que é uma questão de sobrevivência. No entanto, tenho estado tão frágil nestes dias que penso que talvez fosse um bocado demais exigir tanto de mim mesma. As ideias estão aqui, eu sei o que tenho de fazer para as concretizar. Só que para me poder vender, agora mesmo, tenho de acreditar em mim e, francamente, como disse acima, até eu fugiria de mim...

Talvez esta coisa do blog até não seja má ideia, também. Escrever ajuda-me a pôr as ideias em ordem, e até pode ser que se alguém se vir na mesma situação que eu se possa sentir identificado, e quem sabe se isto não poderá ajudá-lo/a. Eu ficava contente se assim fosse: eu fico contente quando as outras pessoas estão contentes.

Eu sei, é idiota escrever na agenda “Ponto 3 – comer”. Mas, graças a esse ponto, hoje fiz um bom jantar para mim. Considerando que eu quase não como, ou então só como gelados e pizzas e comida japonesa take away, não está mal. Não creio, no entanto, que esteja ainda preparada para enfrentar alguns aspectos do mundo exterior, sendo que muitos deles envolvem pessoas. Pessoas complicadas, chatas, com os seus problemas próprios que decidiram não resolver. Pessoas, no fundo, como eu...

Será que amanhã conseguirei, finalmente, trabalhar? Isso era excelente...

Frases giras I

Os amigos são como os cactos: picam pra caraças; em contrapartida, dão excelentes ornamentos decorativos.

200 visitas

um marco histórico, principalmente tendo em conta que pelo menos 190 delas são minhas...

Sunday, October 11, 2009

Por uma vida mais autêntica...

Deitei-me durante uma hora e meia, na tentativa de descansar um bocadinho a minha mente e preparar-me para trabalhar. A ideia não era tanto dormir, era mais ficar por uns momentos naquele espaço entre o sono e o acordar, como uma espécie de meditação. Não consegui.

Não consigo dormir há uns meses, a não ser que tome um comprimido. Na verdade, já nem com esse estratagema consigo descansar: a minha cabeça começa a mil, a projectar-me filmes, uns que aconteceram, outros que eu gostava que acontecessem, outros que nem uma coisa nem outra, e no fundo, tudo o que quero é não sonhar, é descansar apenas, e não consigo.

Podia mentir a mim mesma, e dizer que não entendo o que se passa. Podia tomar um remédio mais forte, tentar fugir para mais longe, rir mais alto, brincar ao faz-de-conta para ver se isto passava. No entanto, eu não sou esse tipo de pessoa. Já fui, mas estou farta dos esquemas em que tanto se mente, e tanto se começa a acreditar nas mentiras que, às tantas, já não se sabe bem quem somos. Se tu és assim ( e ao dizer “tu”, estou a falar genericamente), e se funciona, óptimo. A ver até quando...

No dia 1 de Novembro de 2008, por volta do meio-dia, enchi-me de coragem e disse à pessoa com quem queria passar o resto da minha vida que, afinal, as coisas não eram bem assim. Esta frase que acabei de escrever não acrescenta nada de novo a muitos outros textos que já escrevi aqui, e é uma história antiga. Não será nada de novo dizer também que foi uma decisão ponderada – mas não menos difícil – que implicou uma mudança violentíssima na minha vida. Foram seis anos de uma relação que teve óptimos momentos ( e péssimos também...), uma relação que me levou para fora de Portugal e na qual havia planos de futuro. Por causa da decisão que tomei, tive de regressar para onde eu tinha prometido a mim mesma que não voltaria; tive de recomeçar uma estrutura social e profissional; tive de enfrentar um sempre eterno medo de estar sozinha.

Hoje, dia 11 de Outubro de 2009, culmina (ou começa, nem sei muito bem) um processo de auto-entendimento que é fundamental para evitar uma tendência que sempre tive para a auto-destruição.
Começa com o afastar definitivo de um complexo de culpa enorme que tenho sentido ao longo de todos estes meses, racionalizado no facto de, se fui eu quem terminou, então tenho de estar lá em cima a nível de estado de espírito. Não, não estou. Estou a sofrer por dentro como nunca pensei ser possível sofrer-se por amor. Eu sei que nós fizemos tudo o que nos era possível para salvar a nossa relação, mas nós eramos demasiado teimosos, demasiado apegados, demasiado aquele ser bicéfalo em que duas pessoas se tornam quando se amam. Um amigo meu, mais sábio do que aquilo que ele poderá imaginar-se, disse-me outro dia: o problema não está no facto de a relação acabar, está no facto de olharmos para trás e percebermos que as coisas não funcionaram. Eu queria tanto que funcionasse...but it was broken.

Baseando-me então no falso pressuposto de que, se fui eu quem terminou, então tenho de estar lá em cima a nível de estado de espírito, entrei a mil na minha nova vida. Não tinha tempo para arrependimentos, para sofrimentos e outros “mentos”, porque afinal, o tempo passa a correr e eu queria correr com ele. Fiz o do costume: anestesiar-me com álcool, porcarias e outros gajos. E, como qualquer pessoa partida ao meio, esperar demasiado das pessoas. Desses outros gajos. Dizia para mim mesma que, por mais que soubesse que se aproveitavam da minha fragilidade, eu também me aproveitava deles, e que ao menos me divertia. Se, por um lado, há o seu quê de verdade neste pensamento, a imagem em grande é que estive a acumular dor por cima de dor, para fazer com que a verdadeira dor se fosse embora. Claro que não foi.

Admitir isto é das coisas mais difíceis que alguma vez fiz na minha vida, tão ou mais difícil como deixar o meu ex-namorado. Foi toda uma vida nova, boa, positiva, construtiva, que foi ao ar. E, em consequência, tenho acumulado merda por cima de merda.
Não tenho alternativa senão parar de fugir e assumir o luto. It's broken, não há nada mais para onde voltar. Nem tão-pouco desejo voltar para uma pessoa que, por muito que tenha qualidades, tem defeitos que não posso tolerar. Não mudaria nada agora, nem nunca. Foi uma boa decisão, mas o que se seguiu é que não foi.

Então, o que se segue?
Uma mudança de vida radical. O luto, perdoar-me e assumir que tenho de fazer mesmo tudo de novo. Ser uma pessoa boa para mim, consciencializar-me de que quem decide sou eu, e decidir tendo em conta que, se estou doente do coração, não me faz bem ter atitudes que me debilitam.
Não vou voltar a esperar dos outros aquilo que nem eu mesma me posso dar. Não vou entrar por um caminho de auto-destruição, porque a culpa me diz que, no fundo, é isso que eu mereço. E tenho de parar de tentar estar em dois sítios ao mesmo tempo, na vida que era suposto ter tido, e naquela em que estou agora mesmo. Mais, vou parar de tentar ser uma estrela de rock na vida presente; ser apenas eu é muito mais complicado, mas muito mais verdadeiro.

It was broken, couldn't be fixed. But I can still fix myself...

Saturday, October 10, 2009

Friday, October 2, 2009

Sem título I

São três e meia da manhã...olá, está alguém por aí?

"vai dormir, ó caramela!"

está bem...*snif*

Sozinho na escuridão

Era de manhã. Ele estava diante do espelho, compondo a gola da camisa, esticando levemente o pescoço. Não se conseguia habituar àquela camisa, tão apertada...
De repente, parou e ficou simplesmente a olhar para o seu reflexo.

Ele passava pela rua, de óculos escuros, cigarro dependurado nos lábios, ainda com o cheiro da noite anterior na pele. Era alto, alourado, e escondia os olhos cor de avelã do Mundo porque, simplesmente, havia demasiada claridade na rua para quem acabava de sair do escuro de um bar.
Parou numa passadeira, e um grupo de raparigas calou-se ao seu lado. Elas olharam para ele de alto a baixo, e começaram a comentar coisas baixinho, enquanto se riam. Ele apercebeu-se disso, deu um passo ao lado e ajeitou o casaco. Pensou que talvez tivesse alguma coisa na cara, e porque raio o homenzinho vermelho nunca mais passava a verde...

Mas ele era assim: uma estampa, diziam uns. Um arrogante, diziam outros. E ele, como não sabia fazer mais nada, aproveitava. Se elas queriam ir para a cama com ele, excelente. A porta fica ali no corredor, depois é só descer as escadas... Se eles queriam ser amigos dele, melhor. Mais amigas se seguiriam. No fundo, a relação mais verdadeira que ele tinha era com uma garrafa de cerveja, aquela que se seguia à anterior. O demais eram coisas triviais.

Perto do Dia dos Namorados (a caixa de mensagens do seu telemóvel já não aguentava nem mais um convite para essa noite...), ele descia a Rua do Alecrim. Por alguma razão, talvez por ser o fim da tarde, a rua estava cheia de gente que andava para cima e para baixo, movendo-se rapidamente.
Contudo, ele descia ao seu passo, desviando-se devagar, vendo o corropio em câmara lenta, indiferente.

O rosto dela iluminava-se com uma aura dourada - um resquício dos raios de sol da tarde, incidindo nela. Morena, com um cachecol vermelho, ia subindo a rua, os olhos saltitando entre os transeuntes e os carros. A ele, pareceu-lhe ter escutado uma canção familiar ao longe, e seguiu a luz. Ela olhou para ele, primeiro como quem olha para o vazio, depois observando-o por uns segundos. O raio de luz cruzou as lentes dos óculos escuros, e ele entreabriu os lábios, como se fosse beijá-la. Mas, ao passar ao lado dele, ela só sorriu e continuou a subir a rua. Ele parou e olhou para trás, observando-a. Era apenas uma rapariga de sobretudo creme, um cachecol vermelho e calças de ganga...

Nessa noite, ele estava com os amigos de sempre, no café do costume, mas por alguma razão, nada lhe parecia igual. Brincava com a garrafa de cerveja, distraído, como que tentando fingir que estava tudo na mesma. Pela primeira vez, admitiu para si - em segredo, nunca ninguém poderia saber - que estava tão sozinho que doía. Não era amor, eram sombras que o rodeavam, e que se dissipavam quando ele as procurava. Bebeu mais um gole de cerveja, mas a garganta tinha um nó. Os risos, as conversas, a música, a presença humana, estavam tão longe... preso numa cave da sua própria mente...

Era de manhã. Ele estava diante do espelho, compondo a gola da camisa, esticando levemente o pescoço. Não se conseguia habituar àquela camisa, tão apertada...
De repente, parou e ficou simplesmente a olhar para o seu reflexo. Não era a camisa que estava apertada, era o peito. Vieram-lhe as lágrimas aos olhos e mandou uma cabeçada contra o espelho, partindo-o.

Ao ver o sangue a escorrer-lhe na testa, sentiu-se um bocadinho mais vivo. E depois desmaiou.

Ninguém veio ver dele...

Wednesday, September 30, 2009

Vermes

Eles andam aí... pessoas, independentemente do sexo, que mereciam estar na prisão. Não são psicopatas nem sociopatas, não são criminosos com cadastro, não têm um aspecto assustador como Cesar Lombroso os caracterizou no seu tempo, nem são aparentemente perigosos. No entanto, a natureza humana tem destas coisas, e todos nós o sabemos: dada a oportunidade, podemos tornar-nos autênticos monstros.

Lembro-me de estar em Santa Cruz, numa noite há muitos, muitos anos. Havia uma rapariga que costumava ver por lá, conhecida por não jogar com o baralho: envolvia-se em brigas, dizia coisas completamente sem sentido, e normalmente bebia tanto que acabava a vomitar em qualquer canto. Enquanto os meus amigos gozavam com ela, eu sentia pena dela e recolhia-me, não dizia nada. Se a visse tropeçar, era capaz de me rir, mas o meu instinto sempre me disse para me afastar dela, para não arranjar problemas.
Nessa noite em particular, tive de me meter.

A rapariga surgiu do nada, vagueando pela praia, vinda de uma zona deserta onde só havia rochas. Eventualmente, cambaleou um pouco e desmaiou na areia. O que eu vi a seguir foi inacreditável: uma série de bestas do sexo masculino foi a correr na sua direcção, e em vez de a ajudarem, começaram a tentar tirar-lhe a roupa. Suponho que o resto pode imaginar-se...
Ao longe, quando me apercebi do que se passava, saltei como uma mola da cadeira da esplanada onde estava, chamei toda a gente que conhecia e fomos a correr na sua direcção. Lembro-me de chegar ao pé dela, quase in extremis, e desatar aos murros e pontapés a todos os que estavam a tentar abusar dela. Nessa altura, não havia telemóveis, portanto era impossível chamar a polícia. Tivemos de tratar do assunto nós mesmos: eu, aos gritos, a bater em homens (coisas, quais homens?!) maiores que eu, outros a empurrá-los, e um vizinho meu a tentar ampará-la.
Nunca mais me vou esquecer do que é que um desses animais disse:

"Ela gosta..."

Nunca mais a vi, para dizer a verdade. Não sei o que é feito dela, e também é verdade que ela nunca nos agradeceu termos-lhe provavelmente salvo a vida.
Eu tinha 17 anos.

Aos 21 anos, quando estava a estudar na Holanda, aconteceu-me uma coisa muito parecida. Penso que alguém me meteu qualquer coisa na bebida, não sei. O que eu sei é que, apesar de estar acompanhada, e de conhecer a pessoa em questão, ninguém me ajudou. Tudo o que eu sei é que houve um momento em que a minha consciência se foi, e que assisti a tudo flutuando no tecto. Ele disse:

"Pensei que tu querias..."

Nunca mais me esqueci desse episódio, e racionalizei a coisa desta forma: se eu não estava "presente", foi como se não tivesse acontecido. E, muito embora, tenha a marca dentro de mim, consegui ultrapassar a cena. Acredito que, para cada besta destas, tem de haver uma boa pessoa por aí, e eu sei que isso é verdade. Pode ser difícil encontrá-la, mas as pessoas surgem na nossa vida quando mais precisamos delas.

Aos 29 anos, ia voltando a acontecer.
Ninguém me meteu nada na bebida, eu não estava bêbeda nem inconsciente. Foi tão simples como deixar entrar uma pessoa em minha casa que acompanhava uma amiga, com quem se tinha envolvido. Estava a dormir, quando senti um outro corpo deitar-se na minha cama. De repente, senti uma mão acariciar-me as costas. Daí, a metê-la por debaixo da minha camisola, foi um triz. Imediatamente, rebolei para o outro lado, e levantei-me, de punhos em riste. Olhei-o nos olhos, para que ele soubesse que eu tinha visto perfeitamente o que tinha feito. Ele levantou-se e foi para o sofá abraçar-se à minha amiga, como se nada fosse.

Por uma questão de incredulidade ("se calhar, percebi mal..."), não disse nada. Os dias passaram, e de cada vez que ouvia a minha amiga falar nele, as minhas entranhas revolviam-se, mas achei que não devia contar o sucedido. Como dizer a uma amiga que aquela pessoa, amiga de amigos de longa data, com uma profissão estável, extremamente educado, tinha feito o que fez?

Ontem, contei-lhe a verdade, que é como quem diz: lancei a bomba.

Como se não fosse suficiente, esta besta está prestes a casar-se. Uma amostra de homem, que de certeza que já fez bem pior do que tentou fazer naquela noite, vai-se casar com alguém que não faz a mais pequena ideia do que ele é capaz de fazer a mulheres indefesas, já para não falar na traição descarada de se ter envolvido com a minha amiga.

O que é que se pode fazer? O que é que se pode dizer? Absolutamente nada, porque a única prova é a nossa memória. Mas prometo uma coisa: enquanto esta pessoa existir, vou-lhe fazer a vida num autêntico inferno.

E, no fundo, isto explica o porquê de as pessoas estarem todas na defensiva umas com as outras: só vêem os vermes, e não acreditam que, por cada um deles, existe uma boa pessoa. Eu que o diga, porque até esta miúda começa a ver apenas vermes à sua volta...

Lamento...

Tuesday, September 29, 2009

Um post pessoal

Este texto é pessoal. Destina-se a partilhar com o mundo algo que me aconteceu, em jeito de terapia de grupo, mas também serve – espero eu – para ajudar outras pessoas que estejam a passar pelo mesmo. Portanto, bloggers detractores, podem ir para o próximo blog; dispenso as vossas críticas negativas.

Ontem à noite, tive uma crise de ansiedade grave.

Como sempre, desde há já muito tempo, deitei-me na cama sabendo que não conseguiria dormir, porque sofro de insónias. É impressionante como o cérebro é uma máquina tão potente, mas tão letal ao ponto de fazer com que o cansaço físico seja um mal menor, comparado com a torrente de pensamentos que nos atormentam. Há meses que, todas as noites, me deito e penso em tudo: no fim da minha relação, nos fracassos das minhas relações presentes, nos meus comportamentos, na falta de rumo geral da minha vida e nas coisas estúpidas que digo e que faço. Em certa parte, um dos defeitos das pessoas que sofrem de problemas de ansiedade e depressão é o perfeccionismo, e este costuma dar sinais de vida quando a pessoa precisa de descansar.

Ninguém nota, normalmente. Ando por aí, faço o que tenho a fazer, sou uma pessoa sociável, passo-me da cabeça como toda a gente, mas não dou grandes sinais de ter um desiquilíbrio químico. Oculto o facto de tomar uma medicação especial todos os dias, até porque se não a tomar não começo a espumar da boca, ou a matar pessoas. Simplesmente, fecho-me no meu mundo e sou incapaz de comunicar ou de me relacionar com quem quer que seja.

Sabendo a sociedade em que estou neste momento inserida – classista, preconceituosa, machista e conservadora – falar deste tipo de situações é quase um suicídio social. Isto quer dizer que, se eu me abrisse, haveria potenciais pretendentes que fugiriam de mim a sete pés, porque ninguém quer nada com uma rapariga com problemas. Sei que há amigos que rapidamente deixariam de o ser, porque ninguém tem pachorra para alguém melancólico e por vezes, imprevisível. No entanto, eu tenho de mandar essas coisas todas à merda, porque não sou hipócrita. O primeiro que nunca chorou, ou que nunca teve vontade de morrer que atire a primeira pedra. Se não o admitir, é porque é mentiroso.

Tomar decisões e fazer escolhas, como a que eu fiz há onze meses atrás, para alguém com as minhas características, é muito mais do que um desafio: pode ser um potencial salto para o abismo. Uma pessoa que sofre de depressão nunca deve deixar a estabilidade para trás, sob pena de perder a razão. O problema está em que eu sofro de depressão, mas sou demasiado rebelde e teimosa para aceitar uma qualquer estabilidade. O objectivo a atingir, aqui, é a felicidade, não o marasmo.

Nas minhas andanças nestes meses, enquanto alguém com uma sensibilidade fora do normal, tenho sido violentamente agredida: são os amigos que só servem para os copos e para as quecas; é o trabalho em que nos querem ver pela porta fora, por muito competentes que sejamos; é a falta de oportunidades para explanar o nosso potencial profissional; são os amantes que, eles mesmos não sabendo o que querem, não nos sabem certamente amar.

E, em certos momentos, não dá para aguentar. Uma pessoa tenta, engole, comporta-se de acordo com a situação, reclama, luta, não dá parte de fraca e, um dia, a máscara colapsa. É como estar-se entalado entre dois espelhos, sem escapatória, e tudo o que vemos é a nossa figura, de um lado e de outro. Bloqueados e manietados mentalmente.

Ontem foi o cúmulo. Nem sequer se pode dizer que tenha havido uma causa para, mas a acumulação de todas as dores foi demais. Eram cinco da manhã, não conseguia dormir nem parar de chorar. A opção mais racional que fiz foi vestir-me, pegar nas chaves do carro e ir a correr para casa dos meus pais, de onde escrevo estas linhas. Pelo menos, tenho um sítio para onde ir.

Estou melhor, mais tranquila e consigo ver as coisas com mais claridade. Vai ser a partir de agora que vou deixar a imagem de mim, naquela estação de comboios, cheia de malas, e com toda a minha vida dentro de caixas, e que a vou substituir por uma imagem de mim mais construtiva e real: eu mesma, ainda que isso implique afastar pessoas da minha vida. Afinal, penso que de estímulos negativos, já tive que cheguem...

Friday, September 25, 2009

Apenas Honestidade.

Está quase a fazer um ano que decidi mudar a minha vida para sempre. Na noite de 31 de Outubro, de certeza que me verão algures pelo Bairro Alto, a comemorar o facto de ter tido coragem para deixar para trás todas as coisas que tomava como certas. Uma semana depois, estava eu numa estação de comboios, cheia de malas, com tudo o que tenho dentro de caixas, indo para um destino incerto.

Lembro-me do medo que senti, e da incerteza de não saber se tinha tomado a decisão correcta. Mas também me lembro de pensar que, fosse o que fosse, eu tinha feito uma escolha escutando aquela vozinha dentro de mim. Ainda tenho dúvidas, e reconheço que tenho tido muitas dificuldades em adaptar-me. Em muitos aspectos, a minha vida actualmente está um caos: estar-se só pode ser uma opção, mas a solidão não o é. E não me refiro ao aspecto romântico da coisa, falo realmente do que é deixar-se tudo para trás, e ter de se recomeçar em todos os sentidos. O que nunca pensei foi que fosse mais difícil no sítio onde nasci do que no meu país de adopção.

Ás vezes, tenho sonhos que são como se a minha vida se tivesse fragmentado em duas: se nada tivesse mudado, teria sido bem sucedida como freelancer, teria casado no dia 7 de Julho deste ano, seria cidadã espanhola, e teria uma existência tranquila. Em certos aspectos, é como se essa vida continuasse, mas sem me ter lá.

Em onze meses, conheci muitas pessoas. A maior parte delas revelou ser como degraus num processo de aprendizagem que tem posto à prova a minha capacidade de me manter íntegra e fiel àquilo em que acredito. Como me disseram uma vez: "Você está de se apanhar do chão às colheres, claro que se vai rodear de pessoas que não lhe vão fazer bem!". Num plano abstracto, isto é verdade: colhemos aquilo que semeamos, e se semeamos ventos, decerto vamos colher tempestades. Não podemos esperar muito dos outros se, na verdade, não esperamos nada de nós mesmos...

Congratulo-me, no entanto, pelos momentos em que as coisas não foram tão negativas, e em que realmente entraram pessoas na minha nova vida que merecem tudo aquilo que lhes possa dar. Foi com orgulho que pude sentar oito pessoas numa mesa de jantar, para celebrar o meu dia de anos - nada mau para uma miúda cuja vida está um pouco caótica, não é? Ainda bem que estas pessoas existem, e agora vou poder aprender com elas como conservá-las perto de mim.

Tem sido uma viagem incrível.
As mudanças são assim: nunca podemos antecipar o que vai acontecer, ou como vai acontecer. Tudo depende das escolhas que fazemos, e é certo que muitas vezes as fazemos sem pensar, o que resulta normalmente em problemas, ou mais mudanças. Há dias em que dá vontade de carregar no botão do rewind e voltar àquele momento em que a vida se fragmentou em duas. É quando se percebe que não se pode estar em dois sítios ao mesmo tempo. Perde-se o fio à meada, perdem-se as pessoas, as rotinas... e a vida continua, sem se compadecer.

Mas tudo bem. Se for realmente honesta comigo, sei que fiz o que tinha de fazer e que agora está na altura de me mentalizar de que é aqui que tenho de estar. Inteira. E que tenho de refazer a minha vida, sozinha, num ambiente que embora hostil, tem os seus encantos.

Vou-me pôr de pé outra vez, leve o tempo que levar. Força para quem tem de o fazer também.






Tuesday, September 22, 2009

Há dias assim...

Os dias em que só me apetece atirar-me da ponte.
Os dias em que me deito na cama durante a tarde, com o edredon por cima da cabeça, e tento pensar em Zen, para para o fluxo dos pensamentos negativos.
Os dias em que decido que o "não" é a melhor resposta para tudo e mais alguma coisa.
Os dias em que não estou de ressaca, mas parece que carrego o peso do mundo às costas.
Os dias em que me arrependo de tudo.
Os dias em que me sinto culpada.
Os dias em que tenho o coração tão cheio que parece que vou rebentar.
Os dias em que penso em voltar para trás, e nos quais a opção da mudança parece ter sido a maior estupidez da minha vida.

São os dias em que as borboletas na minha barriga deviam levar com Baygon e morrer todas, porque na verdade, o que é que elas estão lá a fazer? São os dias do "ia sendo, mas não fondo", porque eu não sou a Caótica Ana. Sou a Caótica Mariana.

São os dias em que me apetece chorar até não poder mais, mas não consigo porque é tudo tão forte que nem consigo respirar. Algo dentro de mim, não sei bem explicar o quê, transforma-me num lutador de sumo: aguento tudo, e no entanto, estou a morrer por dentro.

Suponho que nunca ninguém verá esse lado meu, a não ser que olhe bem para os meus olhos, esses que nunca mentem. Tudo o resto é pura força bruta.

São os dias em que deixo de acreditar, em que a minha fé vai pela retrete abaixo.

Será que alguma vez vou ser feliz nesta puta desta cidade? Ou voltei porque há demasiado fado dentro de mim?

Raios parta...

Saturday, September 19, 2009

O meu blog-diário

Querido diário:

hoje foi um dia chato. Acordei envolta no mau cheiro das casas de banho dos gatos, com o cão a lamber-me os pés, e pilhas de roupa espalhadas pelo quarto. Arrastei-me até à cozinha para fazer um café, que servi numa caneca que não era lavada há três dias. Depois, abri o frigorífico e apercebi-me de que tenho de ir ao supermercado urgentemente, porque tudo o que tenho para comer é sopa e ovos.

Vesti o fato de treino, fui ao café comprar tabaco e aproveitei para passear o cão. De repente, lembrei-me que vinha cá a casa o senhor da certificação energética fazer uns testes quaisquer, e que não o podia deixar entrar em casa se esta estivesse estilo Jardim Zoológico em dias de chuva. Então, dediquei-me a limpar até o senhor aparecer, por volta da hora de almoço. Quando o senhor se foi embora, deitei-me no sofá a ver o Family Guy e adormeci por um bocado.

Quando acordei, achei que era um óptimo dia para ir ao cabeleireiro fazer uma mudança radical de visual. Claro que isto foi um truque barato para fugir à pilha de roupa que tinha para arrumar, já para não falar na roupa supostamente lavada que tinha num alguidar para dobrar há duas semanas. Lá fui eu remexer nela, à procura de uma t-shirt gira, quando me dei conta de que um dos meus gatos a tinha usado como retrete. É, um dos meus gatos gosta de me avisar que está na altura de mudar o caixote, fazendo chichi na minha roupa lavada. Tive um ataque de nervos e fui a correr para o cabeleireiro. De lá, saí com menos cabelo, menos dinheiro e um penteado novo. Bolas, a minha cabeça ficou realmente mais leve! Se tudo na vida se resolvesse assim...

Bem, era para ter ido tomar café com a minha irmã, mas adormecemos as duas e acabámos por ficar por casa. Eu, os meus gatos, o cão - que, por sinal, foi outra vez à rua quando fui outra vez comprar tabaco - o Facebook e um filme pipoca no Hollywood. Para me mentalizar de que tinha de fazer a cama de lavado, arrumar a roupa e lavar aquela que o meu bichano sujou, bebi mais um café numa outra caneca que já não lavo há 3 dias. Amanhã, tenho mesmo de lavar a loiça... que chatice!

Agora, vou ficar a fazer horas porque quero ver se ainda lavo duas máquinas de roupa, já que o meu roupeiro está a ficar um bocado vazio de modelitos. Vou ouvir um bocado de Arab Strap, ponderar sobre os factos da vida, e quem sabe, escrever qualquer coisa realmente substancial.

Vida de miúda solteira é pior que vida de gajo solteiro, está visto...

Wednesday, September 16, 2009

Segundas Vidas

Terminei agora um DJ set no Second Life.
Isto é daquelas coisas que requer explicações da minha parte, explicações essas que agora não me apetece muito dar. Em poucas palavras, todas as terça-feiras faço exerço uma actividade online para todo o mundo, que em Lisboa me vedam, porque não pertenço a nenhum clube restrito de pseudo-intelectuais.

E há um mundo virtual, onde pessoas de todo o mundo podem deixar a sua pele real para trás e ser simplesmente o que querem, sem grandes regras ou obrigações. O Second Life seria o mais próximo daquilo que eu imagino como sendo uma sociedade anarquista, a sociedade em que eu gostaria de viver.

Não digo que ser DJ seja o sonho da minha vida, mas permite-me comunicar com outras pessoas através da música de que gosto, e aproxima-me de comunidades com as quais me sinto identificada, de uma forma que eu sei que é impossível na vida real. Existem demasiados constrangimentos... se calhar, é por causa disso que nós, seres humanos, estamos cada vez mais isolados...

Criar uma personagem no Second Life e viver essa vida paralela tem-me ensinado milhares de coisas sobre mim. Tenho aprendido a sair da casca, a ser eu mesma, a dizer aquilo que tenho para dizer, e a viver a vida real de uma forma muito mais livre. A maior parte das pessoas não entende como é que um conjunto de bonequinhos perfeitos, operados por sabe-se lá quem e onde, pode interagir de formas tão intensas – ou mais – do que na vida real. Essa foi a permissa que me intrigou e que me levou a entrar nesse mundo.
E, contra o meu sentido de racional, fiz amigos de carne e osso, apaixonei-me, ri-me, chorei, apanhei bebedeiras, e conheci pessoas cuja forma de pensar poderia revolucionar o mundo. Na verdade, tudo no Second Life é real, e poderia ser MESMO real se alguém cá fora estivesse disposto a escutar – se ainda houvesse humanidade.

No entanto, somos forçados a ser escravos das conveniências, e a calar-nos, porque somos números. Em certa parte, a nossa humanidade está contida em bonecos feitos de pixels...

O meu próximo desafio na vida real: encontrar um dance pole na vida real, e dançar nele até cair para o lado, com toda a gente a ver.

Tuesday, September 15, 2009

Rometa e Julieu

Era uma vez uma estória de amor que comeca pelo fim.
Encostada ao peito do seu amado, Rometa pensava com afinco se realmente amava aquele Sansão que lia Virgina Woolf em voz alta, sem conseguir apreciar nem uma palavra. Inspirou o seu cheiro a cavalo e sentiu as entranhas revolverem-se. Seria o medo do compromisso, ou seria ele realmente um burgesso? Assim, ela enunciou a frase que faz a maior parte dos homens tremer de medo:
Amor, temos de falar...

Julieu era um homem alto, gordo e descabelado. Os seus arrotos ouviam-se a meio quilómetro de distância, e ele tinha orgulho em demonstrá-lo em restaurantes de cinco estrelas. À primeira vista, ninguém diria que este Gerard Depardieu à portuguesa era um dos mais conceituados – e multifacetados – artistas plásticos do país.
Rometa era uma rapariga magrita, de olhos cor de avelã rasgados e penetrantes, que trabalhava como estivadora num centro comercial. Fora por acidente – ou sorte, nos tempos que correm, já nem se sabe muito bem... - que tinha arranjado esse trabalho. O que ela gostava realmente de ser era escritora, mas ninguém a levava a sério.

Rometa e Julieu conheceram-se num bar de má fama no Cais do Sodré: ele gostava de mulheres da vida e de coca; ela precisava de uma bebida forte quando saía do trabalho e de ver gente normal, para se sentir viva. Rometa levava uns vodkas a mais na bagagem, e ao ver Julieu snifar uma linha com uma nota de 100 euros, umas mesas à frente, lembrou-se que já o tinha visto na televisão. Por isso, levantou-se, e bamboleando-se, sentou-se na mesa dele. Rodeado de putas, que fugiram quando Rometa se sentou, Julieu esbugalhou os olhos e fitou-a de alto a baixo. Ela sorriu-lhe, um sorriso que só os demónios sabem fazer. Foi tudo o que foi preciso para que acabassem enrolados durante mais de 10 horas seguidas em casa dele.

Recuperando da ressaca, já em casa, Rometa olhava absorta para a parede da sala e não conseguia pensar. Decidiu que talvez devesse deixar de beber tanto, e quem sabe, tentar encontrar um sentido para a vida; ser mãe, arranjar um emprego decente, ficar em casa a ver televisão em vez de ir para bares de má fama procurar sarilhos. Fora mais uma das estórias para contar no livro que nunca iria escrever...

Julieu, por seu turno, estava fascinado com aquela odalisca do povo, que sem dizer uma palavra, arrancara o animal que havia nele. Aquela mulher havia de ser a futura mãe dos filhos dele...

Voltaram a encontrar-se para jantar – Julieu pagava, como um cavalheiro. E como o cavalheiro que era, tentou não comer de boca aberta, nem arrotar, mas a sua natureza era demasiado forte. Rometa, como todas as mulheres, não comentou, mas registou o acontecimento na sua lista de razões para não se envolver mais. Contudo, horas depois, viu-se com o robe dele vestido, em cima de uma poltrona, fumando um cigarro pós-coital e vendo as luzes de Lisboa, ao som de Django Reinhardt.

Ela pensou: o amor deveria ser o sentimento mais simples do Mundo. Não devia ser condicionado por aquilo que os outros pensam ou dizem, nem por aquilo que nós pensamos. Deveria ser algo natural, animal, sem explicações nem razões. Eu não devia ter medo, as pessoas não deviam ter tanto medo. No entanto, estou aterrorizada, apavorada. E este medo vem do facto de eu não amar este homem.

Julieu, no quarto, ressonava. Sonhava em fazer um filho a Rometa e fugir, voltar a aparecer, fazer-lhe outro filho, e fugir de novo. Essa era a relação perfeita entre homem e mulher, até que a morte (ou uma brasileira) os separasse. No seu sonho, Rometa estava sempre à sua espera na cama, de pernas abertas, pronta para mais uma. E depois dela, havia outra amante, noutra ponta da cidade, exactamente na mesma posição. E mais outra... Contudo, seria sempre para Rometa que ele voltaria, porque a amava.

Ao nascer do sol, Rometa vestiu-se, saíu de casa de Julieu sem olhar para trás e prometeu-se encontrar um sentido para a sua vida sem ele. Nem que tivesse de descarregar camiões até ao fim da sua vida...

Meses depois, Julieu apareceu. Haviam concordado em manter uma cordial amizade, que ele constantemente desafiava, contra os esforços diplomáticos de Rometa em manter o nível. Nessa noite, Rometa não resistiu e percebeu que Julieu era o homem da sua vida. E disse-lhe que o amava.

Prometeram tentar durante uma semana serem um casal normal. Ele ia ter a casa dela à noite, jantavam, viam televisão e depois faziam amor. Ao fim de dois dias, Rometa deu-se conta que tinha de mudar os lençóis da cama sempre que ele lá dormia; a tampa da sanita estava sempre para cima; a banheira ficava cheia de cabelos e de gordura depois de ele tomar banho.

Ao sétimo dia, Rometa estava aninhada em Julieu, que lia Virginia Woolf em voz alta, sem conseguir apreciar nem uma palavra. Vencendo o medo de ser tornar invisível e de nunca encontrar um sentido para a vida, ela murmurou:

- Amor, temos de falar...

Monday, August 17, 2009

O que é que correu mal?

Essa era a pergunta que todos os seus amigos e família faziam, enquanto ele e ela assinavam os papéis de divórcio: o que é que correu mal? Cinco anos de namoro, dois de casamento, um filho, três gatos, e tudo se desfazia em pó, numa tarde, com duas assinaturas consentidas. Ao saírem do edifício, olharam um para o outro e tudo o que conseguiram esboçar foi um encolher de ombros. Viraram costas e cada um foi para seu lado; ela entrou num táxi, e ele foi andando pela rua, em direcção ao café onde a sua nova namorada o esperava.

História de amor mais perfeita não podia ter sido escrita para estes dois: tinham-se conhecido na universidade, no mesmo curso. Ela, como todas as raparigas, olhava-o pelo canto do olho e sorria secretamente; ele, como todos os rapazes, oscilava entre ignorá-la e fazer graçolas para lhe chamar a atenção. Surgiu uma amizade que nenhum admitia ser algo mais, até porque ele tinha namorada havia anos. Abnegada, como todas as raparigas, ela era companheira e confidente, mas desejava ardentemente algo mais. E prometeu-se esperar.

Passou um par de anos, e a situação inverteu-se: continuavam amigos e confidentes, mas ela conhecera entretanto outro homem e apaixonara-se, enquanto ele descobrira que a sua namorada o traía. Maldizendo a sua triste sorte, ele submeteu-se aos murros no estômago que levava de todas as vezes que ela falava do outro, ou quando os via juntos. Nada mais lhe restava senão sorrir e fazer de conta que tinha outros interesses.

Com o passar do tempo, foram-se afastando. Ela sentia-se mal quando ele estava presente, ele deixou a universidade por uns meses para trabalhar noutros projectos. Um outro par de anos depois, voltaram a encontrar-se casualmente. E não pensaram duas vezes: numa semana, ela mudou-se para casa dele, e começaram a construir um lar. Afinal, parecia que o destino dava realmente mais oportunidades àqueles que realmente se amam...

Primeiro, foi a rotina, os horários de trabalho desencontrados, os projectos que não podiam recusar, o cansaço. Tudo o que ela queria era chegar a casa, jantar, e deitar-se no sofá a ver televisão. E ele, obcecado com maquetas e com o dinheiro, não saía do escritório. Deitavam-se lado a lado sem dizer uma palavra. Ela sabia que ele a amava, portanto não precisava de o ouvir; ele amava-a, não precisava de lho dizer – podem os sentimentos realmente sobreviver sem serem enunciados? Não demorou muito para que ambos deixassem de conseguir comunicar, o que levou a que discutissem constantemente. Sem planos, ela engravidou, e ambos pensaram que a relação iriam mudar para melhor com esta evolução. Passara-se um ano e meio desde que se tinham juntado.

O filho nasceu, e os momentos iniciais de alegria converteram-se em confusão e caos. Noites sem dormir, excesso de trabalho, demasiada televisão e café, demasiados gritos e pouca compreensão mútua. Quando o bebé fez um ano, a sua vida acalmou um pouco, e decidiram e viajar para reacender a chama. Previsivelmente, foram passar duas semanas a Paris, e previsivelmente, perceberam que não havia chama nenhuma para acender. Dois estranhos deitados na mesma cama, olhando para o tecto do quarto, em silêncio. Não sabiam sobre o que conversar e não sabiam o que queriam. Ela pensava em horários de museus, fotos que queria tirar, como estaria o seu filhote, compras para ela e para a família... Tudo o que ele queria era deambular por Paris e ver a arquitectura da cidade, como tantas vezes o tinham feito juntos. Não queria pensar em nada mais, muito menos no porquê de não lhe conseguir dar a mão naquele preciso momento.

Os anos seguintes foram uma misto de discussões e de silêncios, adequadamente escondidos da família e dos amigos, até ao dia em que ele arrumou uma mala com roupa e saiu de casa. O divórcio seria assinado seis meses depois.

“O que é que correu mal?”
Ninguém sabia que, cinco meses depois de estar a viver com ela, conhecera uma rapariga no trabalho. Ninguém sabia o que ambos tinham sentido quando se viram pela primeira vez, nem tão pouco imaginavam que tinham tido um caso durante duas semanas. Um caso que ele terminara porque acreditava que amava a sua namorada.

Ninguém poderia prever que se voltariam a ver, anos depois, no momento em que ele voltava de Paris com a sua mulher. E ninguém se apercebeu de que ela o esperava no café, quando ele acabou de assinar os papéis de divórcio...

Saturday, August 15, 2009

A nossa humanidade

A Time Out n. 98 traz um artigo que achei fenomenal; traçar o perfil dos engates em Lisboa. Este trabalho veio como um tsunami de encontro aos meus próprios pensamentos em relação ao tema, tendo em conta que eu também ando aí. Segundo este estudo informal, engatar na noite de Lisboa é fácil, tanto para homens como para mulheres, e parece até que o é ainda melhor quando mete estrangeiros à mistura. Ou seja, um tuga estará sempre mais inclinado a enrolar-se com um turista do que com outro tuga. O que é nacional é bom? A mim, cheira-me a provincianismo esturricado, do tempo das suecas e das francesas a fazer topless na Costa da Caparica. Aparentemente, a mulher portuguesa estaria demasiado ocupada a cozinhar, a fazer o bigode e a lançar olhares de reprovação a quem mostrava mais do que o tornozelo no adro da igreja... É evidente que os tempos mudam, mas pelos vistos as mentalidades não, porque continua a ser uma questao de auto-estima e de status andar pendurado a um americano loiro, ou a uma eslovaca ainda mais loira.

Outro dado interessante que o artigo foca é o de que, embora o engate seja muito fácil, quem busca mais do que o suprir de necessidades biológicas típicas da espécie tem a vida muito mais dificultada. Ou, como eu costumo dizer, pichas há muitas, mas homens é que há poucos. Aparentemente, as pessoas têm uma extrema dificuldade em relacionar-se devido à bagagem emocional que transportam com elas, sendo portanto mais fácil viver com uns quantos one-night-stands na consciência, do que com a memória de relações falhadas. O peso do dia-a-dia, a crise (?), a rotina, as carreiras e essas coisas todas tiram a tesão à coisa. Mais, e isto é sério: a fidelidade também anda pelas ruas do Bairro Alto, tendo já passado por melhores dias. não é nada invulgar ver a malta a dar uma de amante latino (e latina, que isto toca a todos), com a monga (ou mongo) em casa a ver televisão. Na verdade, quem sabe? Se calhar, os ditos-cujos estao na esquina acima a fazer exactamente o mesmo.

A minha experiência diz-me que estou mal-habituada: gosto de me sentar ao balcão de um bar a beber qualquer coisa, e gosto de conhecer as pessoas à minha volta, sem esperar levar alguém para casa. Erro crasso, porque é muito provável que me queiram levar a mim para casa, o que é lamentável, dada a minha boa-vontade em conhecer gente.

Ao mesmo tempo, por muita vontade de rir que tenha ao analisar esta radiografia da nossa sociedade (e em grande parte, da dos outros também), não consigo deixar de me sentir triste com a mediocridade das pessoas. Entristece-me o facto de as pessoas em geral andarem por aí a passear-se de copo na mao, pintando uma auto-imagem estilo pavão (cauda bem aberta para mostrar o uau em si), para satisfazerem necessidades que, no fundo, não passam de falácias para encobrir a sua própria solidão. O flirt, o engate, o sexo, isso é tudo fantástico, mas não tem piada nenhuma se não acarta em si qualquer tipo de sentimento. Nesse caso, representa uma postura egocêntrica, básica, vazia e inútil.
A maior parte das pessoas com que me relacionei nessa base desde que me vi numa estação de comboios com a minha vida em caixas corresponde inteiramente ao perfil acima descrito: monga em casa (e quando sem monga em casa, monga fantasma na sua cabeca), cauda de pavão em leque mostrando o quao bons foram há não sei quantos anos atrás, ansiosos por consumar mais uma fetichada. De resto, nada. Absolutamente nada. Existe sempre uma desculpa emocionalmente forte (aparentemente!) para que os laços não se estreitem. E é com alguma mágoa que tenho de me inserir neste grupo, porque eu também já o fiz. Só que pergunto-me se alguma destas pessoas teve os problemas de consciência que eu tive ao abandonar de certa pessoa ao raiar do dia.

Acho que este é um exemplo numa escala muito doméstica (de alcofa!) de como há pessoas cuja humanidade simplesmente desapareceu. Pessoas que olham para os outros como um meio para atingir um fim, neste caso, satisfação do ego e satisfação sexual. Por isso é que é tão dificil separar o trigo do joio, e encontrar alguém que seja, ainda, um pouco humano – com tanto pavão para aí de copo na mão, não admira...

Thursday, August 13, 2009

Príncipes, Princesas, Sapos & Sapas

Desde que me separei, e entrei no maravilhoso mundo das pessoas solteiras ( o "mercado", para muitos ), que existe uma expressão recorrente na boca de todos: há que se beijar muitos sapos até se encontrar um príncipe.

Eu penso mais que é preciso beijar muitos príncipes até se encontrar o sapo neles.

Nao sei se é um defeito das pessoas em Lisboa ( e lá estou eu a dizer mal da cidade... ), ou se é um mal generalizado do nosso tempo, mas normalmente as pessoas relacionam-se procurando retirar algo umas das outras. Esse "algo" de que falo tem a ver, regra geral, ou com sexo ou com dinheiro. Há nove meses atrás, vi-me numa estação de comboios nesta cidade, com toda a minha vida em caixas e, desde então, tenho tentado criar uma nova vida. Uma nova casa - um lar -, um novo emprego, novos amigos, sem esquecer todos aqueles que, por algum motivo, terao ficado para trás. E no "novo", tenho-me deparado com esta triste realidade daqueles que assumem que lhes quero tirar um pedaço, porque afinal, é o mesmo que querem de mim.

Durante o período em que esbracejava de alegria, e que gritava "SOLTEIRAAAAA!!!!BORA LÁÁÁÁÁ", o facto de dar algo nestes termos não me importava muito. Era o esperado, de certa forma desejado, e muito embora fosse deixando as suas mossas, nada era realmente significativo. Ter uma vida em construção implica muitas vezes que se tenha de repensar as suas fundações e cometer erros de arquitectura. Contudo, tudo tem um preço e, no meu caso, penso que esse preço é um extraordinário cansaço e fastídio em relação ao que espero das pessoas.

Nem tudo tem a ver com o aspecto sentimental da coisa: contrariamente ao que poderia alguma vez imaginar, sou uma rapariga solteira muito feliz com a minha condição. O meu maior medo - solidão - afinal era uma desculpa patética para impedir o meu desenvolvimento pessoal.
Mas provei-me que, mesmo quando dou um beijinho na bochecha de um príncipe, aparece um sapo. E essa nem é a parte assustadora: às vezes, sai-me uma cascavel, desejosa de espalhar o veneno do desprezo pelas pessoas. São sempre as mesmas desculpas: a falta de tempo, a falta de "disponibilidade emocional", a falta de interesse em geral, e demasiadas vezes, o silêncio total e desconcertante, a falta de resposta.

Penso muitas vezes que, um dia, vou-me fartar de ser uma pessoa simpática, e que vou ter de usar a mesma máscara arrogante e antipática que geralmente as pessoas têm tendência para mostrar. O que é uma pena, porque acredito que existem pessoas positivas que vale a pena conhecer e deixar entrar na minha vida - pessoas que sentem o mesmo que eu e que também estão encarceradas nesta forma de vida de defesa e contra-ataque. Pessoas cujo ego tem um tamanho normal e que estão dispostas a viver, em vez de mentirem a elas próprias, e por consequência, aos outros.

Encontrar um príncipe ou uma princesa no meio de sapos? Toda a gente pertence à realeza, até se verem as verrugas por baixo de tanta maquilhagem...

Wednesday, August 12, 2009

Gente com pancada

(em ordem aleatória)

Gosto de sapatos. Gosto de roupa, preferencialmente peças fora do vulgar que digam como é que me estou a sentir nesse dia.
Gosto de gelado de frutos silvestres. Gosto de me fechar em casa e de não falar com ninguém, mas também gosto de falar pelos cotovelos. Gosto de ouvir gente com pancada e as suas teorias malucas. Gosto de ouvir gente normal falar sobre coisas sem importância.
Gosto de homens. Gosto de sushi e de comida vegetariana. Gosto de fumar cigarros. Gosto de beber cerveja sem álcool.
Gosto de computadores. Gosto da Internet e da ideia de viver numa perspectiva global. Gosto de vidas virtuais em que toda a gente pode ser aquilo que não pode ser na vida real. Gosto de escrever, e gosto de ler o que os outros escrevem, mesmo quando é lixo.
Gosto do som do mar, e de mergulhar debaixo das ondas. Gosto de me deitar na relva na Gulbenkian a ouvir música. Gosto de fazer Yoga, principalmente quando isso implica torcer-me toda.
Gosto de bichos de quatro patas, e até de alguns de duas patas.

Gosto de me rir às gargalhadas. Gosto de me sentir melancólica e de chorar ocasionalmente. Gosto de dançar e de fazer figuras idiotas, gesticular e caretas. Gosto do meu cabelo e de me pentear todos os dias de uma forma diferente.
Gosto do cabelo dos outros, é o primeiro traço que me chama a atenção. Gosto de falar quatro línguas ao mesmo tempo numa frase, porque me apetece. Gosto de ser intuitiva e de ser curiosa.

Gosto de cócegas, desde que não sejam nos pés. Gosto de ver as pessoas a sorrir, e de as fazer rir. Às vezes, também gosto de as fazer chorar, mas muito raramente. Gosto de conduzir à noite sem destino, por Lisboa. Gosto das coisas simples, mas as coisas complicadas também me agradam. Gosto de quebra-cabeças e de surpresas. Gosto de lógica, mas gosto mais ainda da experiência.
Gosto de meter o nariz onde não sou chamada.

Gosto de ter borboletas na barriga. Gosto de estar no controlo das situações, mas também gosto da vertigem de me tirarem o tapete de debaixo dos pés. Gosto de esculturas em ferro forjado, de cinema e de quadros coloridos.
Gosto da rotina, principalmente quando a rompo. Gosto de viajar e de o fazer ao contrário dos turistas normais.

Gosto de beber muito café. Gosto de beber muitos sumos, mas prefiro sumo de ananás.

Gosto de ser especial. Gosto de estar onde estou, e de ter a consciência de que estou a mudar todos os dias, com todas as coisas positivas e negativas que isso implica.

E acredito em milagres, acho que já vi alguns.

These are a few of my favourite things. So deal with it.

Tuesday, August 11, 2009

Quarenta minutos entre agora e a uma da manhã

Fumo demais, mas não bebo.
Escuto demais, não falo o suficiente.
Canções e estrelinhas, às vezes vejo tudo a brilhar.
Ainda estou a tentar perceber o que estou aqui a fazer.

Para escrever má poesia, prefiro dormir.
Para dormir, preferia ter-te ao meu lado,
sejas tu quem fores.
Serve qualquer peito peludo de Homem?

Podia ficar todo o dia deitada no sofá
de olhos fechados
a Imaginar
o que seria a Vida contigo.

A Vida sem ti, isso eu sei muito bem como é:
é boa, mas falta-me o cheiro a Homem.

Égoiste, Hugo Boss.

Friday, July 17, 2009

Lisboa, uma relação turbulenta.

Gostava de inaugurar o blog com uma entrada como deve ser.
No entanto, quando penso no título que dei a este post, e nas implicações que ele acarreta, só me vem à cabeça o seguinte diálogo:

A - Mas a X e o Y voltaram a juntar-se?

B - Pois é...

A - Mas eles davam-se tão mal, não se entendiam... Depois, estiveram separados quantas vezes?

B - Olha, um ano em 2001, e depois outra vez há 3 anos. Dessa vez, foram quase 2 anos separados.

A - Não percebo. A sério que não percebo.

B - Pois...é como aquelas pessoas que têm uma relação má, mas como é a única coisa que têm, não se conseguem separar.

A - Pois, como se fosse para enfrentar o mundo quando estão sozinhos. E como se não fossem capazes...

B - É isso. Como não têm mais ninguém...

A - Pois...


Et voilá! Bem-vindos ao meu blog, um corrido de textos virados para dentro, sem complexos quanto ao facto de os blogs serem, geralmente, umbiguistas. Lol!