Wednesday, September 30, 2009
Vermes
Tuesday, September 29, 2009
Um post pessoal
Ontem à noite, tive uma crise de ansiedade grave.
Como sempre, desde há já muito tempo, deitei-me na cama sabendo que não conseguiria dormir, porque sofro de insónias. É impressionante como o cérebro é uma máquina tão potente, mas tão letal ao ponto de fazer com que o cansaço físico seja um mal menor, comparado com a torrente de pensamentos que nos atormentam. Há meses que, todas as noites, me deito e penso em tudo: no fim da minha relação, nos fracassos das minhas relações presentes, nos meus comportamentos, na falta de rumo geral da minha vida e nas coisas estúpidas que digo e que faço. Em certa parte, um dos defeitos das pessoas que sofrem de problemas de ansiedade e depressão é o perfeccionismo, e este costuma dar sinais de vida quando a pessoa precisa de descansar.
Ninguém nota, normalmente. Ando por aí, faço o que tenho a fazer, sou uma pessoa sociável, passo-me da cabeça como toda a gente, mas não dou grandes sinais de ter um desiquilíbrio químico. Oculto o facto de tomar uma medicação especial todos os dias, até porque se não a tomar não começo a espumar da boca, ou a matar pessoas. Simplesmente, fecho-me no meu mundo e sou incapaz de comunicar ou de me relacionar com quem quer que seja.
Sabendo a sociedade em que estou neste momento inserida – classista, preconceituosa, machista e conservadora – falar deste tipo de situações é quase um suicídio social. Isto quer dizer que, se eu me abrisse, haveria potenciais pretendentes que fugiriam de mim a sete pés, porque ninguém quer nada com uma rapariga com problemas. Sei que há amigos que rapidamente deixariam de o ser, porque ninguém tem pachorra para alguém melancólico e por vezes, imprevisível. No entanto, eu tenho de mandar essas coisas todas à merda, porque não sou hipócrita. O primeiro que nunca chorou, ou que nunca teve vontade de morrer que atire a primeira pedra. Se não o admitir, é porque é mentiroso.
Tomar decisões e fazer escolhas, como a que eu fiz há onze meses atrás, para alguém com as minhas características, é muito mais do que um desafio: pode ser um potencial salto para o abismo. Uma pessoa que sofre de depressão nunca deve deixar a estabilidade para trás, sob pena de perder a razão. O problema está em que eu sofro de depressão, mas sou demasiado rebelde e teimosa para aceitar uma qualquer estabilidade. O objectivo a atingir, aqui, é a felicidade, não o marasmo.
Nas minhas andanças nestes meses, enquanto alguém com uma sensibilidade fora do normal, tenho sido violentamente agredida: são os amigos que só servem para os copos e para as quecas; é o trabalho em que nos querem ver pela porta fora, por muito competentes que sejamos; é a falta de oportunidades para explanar o nosso potencial profissional; são os amantes que, eles mesmos não sabendo o que querem, não nos sabem certamente amar.
E, em certos momentos, não dá para aguentar. Uma pessoa tenta, engole, comporta-se de acordo com a situação, reclama, luta, não dá parte de fraca e, um dia, a máscara colapsa. É como estar-se entalado entre dois espelhos, sem escapatória, e tudo o que vemos é a nossa figura, de um lado e de outro. Bloqueados e manietados mentalmente.
Ontem foi o cúmulo. Nem sequer se pode dizer que tenha havido uma causa para, mas a acumulação de todas as dores foi demais. Eram cinco da manhã, não conseguia dormir nem parar de chorar. A opção mais racional que fiz foi vestir-me, pegar nas chaves do carro e ir a correr para casa dos meus pais, de onde escrevo estas linhas. Pelo menos, tenho um sítio para onde ir.
Estou melhor, mais tranquila e consigo ver as coisas com mais claridade. Vai ser a partir de agora que vou deixar a imagem de mim, naquela estação de comboios, cheia de malas, e com toda a minha vida dentro de caixas, e que a vou substituir por uma imagem de mim mais construtiva e real: eu mesma, ainda que isso implique afastar pessoas da minha vida. Afinal, penso que de estímulos negativos, já tive que cheguem...
Friday, September 25, 2009
Apenas Honestidade.
Tuesday, September 22, 2009
Há dias assim...
Monday, September 21, 2009
Saturday, September 19, 2009
O meu blog-diário
hoje foi um dia chato. Acordei envolta no mau cheiro das casas de banho dos gatos, com o cão a lamber-me os pés, e pilhas de roupa espalhadas pelo quarto. Arrastei-me até à cozinha para fazer um café, que servi numa caneca que não era lavada há três dias. Depois, abri o frigorífico e apercebi-me de que tenho de ir ao supermercado urgentemente, porque tudo o que tenho para comer é sopa e ovos.
Vesti o fato de treino, fui ao café comprar tabaco e aproveitei para passear o cão. De repente, lembrei-me que vinha cá a casa o senhor da certificação energética fazer uns testes quaisquer, e que não o podia deixar entrar em casa se esta estivesse estilo Jardim Zoológico em dias de chuva. Então, dediquei-me a limpar até o senhor aparecer, por volta da hora de almoço. Quando o senhor se foi embora, deitei-me no sofá a ver o Family Guy e adormeci por um bocado.
Wednesday, September 16, 2009
Segundas Vidas
Isto é daquelas coisas que requer explicações da minha parte, explicações essas que agora não me apetece muito dar. Em poucas palavras, todas as terça-feiras faço exerço uma actividade online para todo o mundo, que em Lisboa me vedam, porque não pertenço a nenhum clube restrito de pseudo-intelectuais.
E há um mundo virtual, onde pessoas de todo o mundo podem deixar a sua pele real para trás e ser simplesmente o que querem, sem grandes regras ou obrigações. O Second Life seria o mais próximo daquilo que eu imagino como sendo uma sociedade anarquista, a sociedade em que eu gostaria de viver.
Não digo que ser DJ seja o sonho da minha vida, mas permite-me comunicar com outras pessoas através da música de que gosto, e aproxima-me de comunidades com as quais me sinto identificada, de uma forma que eu sei que é impossível na vida real. Existem demasiados constrangimentos... se calhar, é por causa disso que nós, seres humanos, estamos cada vez mais isolados...
Criar uma personagem no Second Life e viver essa vida paralela tem-me ensinado milhares de coisas sobre mim. Tenho aprendido a sair da casca, a ser eu mesma, a dizer aquilo que tenho para dizer, e a viver a vida real de uma forma muito mais livre. A maior parte das pessoas não entende como é que um conjunto de bonequinhos perfeitos, operados por sabe-se lá quem e onde, pode interagir de formas tão intensas – ou mais – do que na vida real. Essa foi a permissa que me intrigou e que me levou a entrar nesse mundo.
E, contra o meu sentido de racional, fiz amigos de carne e osso, apaixonei-me, ri-me, chorei, apanhei bebedeiras, e conheci pessoas cuja forma de pensar poderia revolucionar o mundo. Na verdade, tudo no Second Life é real, e poderia ser MESMO real se alguém cá fora estivesse disposto a escutar – se ainda houvesse humanidade.
No entanto, somos forçados a ser escravos das conveniências, e a calar-nos, porque somos números. Em certa parte, a nossa humanidade está contida em bonecos feitos de pixels...
O meu próximo desafio na vida real: encontrar um dance pole na vida real, e dançar nele até cair para o lado, com toda a gente a ver.
Tuesday, September 15, 2009
Rometa e Julieu
Encostada ao peito do seu amado, Rometa pensava com afinco se realmente amava aquele Sansão que lia Virgina Woolf em voz alta, sem conseguir apreciar nem uma palavra. Inspirou o seu cheiro a cavalo e sentiu as entranhas revolverem-se. Seria o medo do compromisso, ou seria ele realmente um burgesso? Assim, ela enunciou a frase que faz a maior parte dos homens tremer de medo:
Amor, temos de falar...
Julieu era um homem alto, gordo e descabelado. Os seus arrotos ouviam-se a meio quilómetro de distância, e ele tinha orgulho em demonstrá-lo em restaurantes de cinco estrelas. À primeira vista, ninguém diria que este Gerard Depardieu à portuguesa era um dos mais conceituados – e multifacetados – artistas plásticos do país.
Rometa era uma rapariga magrita, de olhos cor de avelã rasgados e penetrantes, que trabalhava como estivadora num centro comercial. Fora por acidente – ou sorte, nos tempos que correm, já nem se sabe muito bem... - que tinha arranjado esse trabalho. O que ela gostava realmente de ser era escritora, mas ninguém a levava a sério.
Rometa e Julieu conheceram-se num bar de má fama no Cais do Sodré: ele gostava de mulheres da vida e de coca; ela precisava de uma bebida forte quando saía do trabalho e de ver gente normal, para se sentir viva. Rometa levava uns vodkas a mais na bagagem, e ao ver Julieu snifar uma linha com uma nota de 100 euros, umas mesas à frente, lembrou-se que já o tinha visto na televisão. Por isso, levantou-se, e bamboleando-se, sentou-se na mesa dele. Rodeado de putas, que fugiram quando Rometa se sentou, Julieu esbugalhou os olhos e fitou-a de alto a baixo. Ela sorriu-lhe, um sorriso que só os demónios sabem fazer. Foi tudo o que foi preciso para que acabassem enrolados durante mais de 10 horas seguidas em casa dele.
Recuperando da ressaca, já em casa, Rometa olhava absorta para a parede da sala e não conseguia pensar. Decidiu que talvez devesse deixar de beber tanto, e quem sabe, tentar encontrar um sentido para a vida; ser mãe, arranjar um emprego decente, ficar em casa a ver televisão em vez de ir para bares de má fama procurar sarilhos. Fora mais uma das estórias para contar no livro que nunca iria escrever...
Julieu, por seu turno, estava fascinado com aquela odalisca do povo, que sem dizer uma palavra, arrancara o animal que havia nele. Aquela mulher havia de ser a futura mãe dos filhos dele...
Voltaram a encontrar-se para jantar – Julieu pagava, como um cavalheiro. E como o cavalheiro que era, tentou não comer de boca aberta, nem arrotar, mas a sua natureza era demasiado forte. Rometa, como todas as mulheres, não comentou, mas registou o acontecimento na sua lista de razões para não se envolver mais. Contudo, horas depois, viu-se com o robe dele vestido, em cima de uma poltrona, fumando um cigarro pós-coital e vendo as luzes de Lisboa, ao som de Django Reinhardt.
Ela pensou: o amor deveria ser o sentimento mais simples do Mundo. Não devia ser condicionado por aquilo que os outros pensam ou dizem, nem por aquilo que nós pensamos. Deveria ser algo natural, animal, sem explicações nem razões. Eu não devia ter medo, as pessoas não deviam ter tanto medo. No entanto, estou aterrorizada, apavorada. E este medo vem do facto de eu não amar este homem.
Julieu, no quarto, ressonava. Sonhava em fazer um filho a Rometa e fugir, voltar a aparecer, fazer-lhe outro filho, e fugir de novo. Essa era a relação perfeita entre homem e mulher, até que a morte (ou uma brasileira) os separasse. No seu sonho, Rometa estava sempre à sua espera na cama, de pernas abertas, pronta para mais uma. E depois dela, havia outra amante, noutra ponta da cidade, exactamente na mesma posição. E mais outra... Contudo, seria sempre para Rometa que ele voltaria, porque a amava.
Ao nascer do sol, Rometa vestiu-se, saíu de casa de Julieu sem olhar para trás e prometeu-se encontrar um sentido para a sua vida sem ele. Nem que tivesse de descarregar camiões até ao fim da sua vida...
Meses depois, Julieu apareceu. Haviam concordado em manter uma cordial amizade, que ele constantemente desafiava, contra os esforços diplomáticos de Rometa em manter o nível. Nessa noite, Rometa não resistiu e percebeu que Julieu era o homem da sua vida. E disse-lhe que o amava.
Prometeram tentar durante uma semana serem um casal normal. Ele ia ter a casa dela à noite, jantavam, viam televisão e depois faziam amor. Ao fim de dois dias, Rometa deu-se conta que tinha de mudar os lençóis da cama sempre que ele lá dormia; a tampa da sanita estava sempre para cima; a banheira ficava cheia de cabelos e de gordura depois de ele tomar banho.
Ao sétimo dia, Rometa estava aninhada em Julieu, que lia Virginia Woolf em voz alta, sem conseguir apreciar nem uma palavra. Vencendo o medo de ser tornar invisível e de nunca encontrar um sentido para a vida, ela murmurou:
- Amor, temos de falar...