Monday, August 17, 2009

O que é que correu mal?

Essa era a pergunta que todos os seus amigos e família faziam, enquanto ele e ela assinavam os papéis de divórcio: o que é que correu mal? Cinco anos de namoro, dois de casamento, um filho, três gatos, e tudo se desfazia em pó, numa tarde, com duas assinaturas consentidas. Ao saírem do edifício, olharam um para o outro e tudo o que conseguiram esboçar foi um encolher de ombros. Viraram costas e cada um foi para seu lado; ela entrou num táxi, e ele foi andando pela rua, em direcção ao café onde a sua nova namorada o esperava.

História de amor mais perfeita não podia ter sido escrita para estes dois: tinham-se conhecido na universidade, no mesmo curso. Ela, como todas as raparigas, olhava-o pelo canto do olho e sorria secretamente; ele, como todos os rapazes, oscilava entre ignorá-la e fazer graçolas para lhe chamar a atenção. Surgiu uma amizade que nenhum admitia ser algo mais, até porque ele tinha namorada havia anos. Abnegada, como todas as raparigas, ela era companheira e confidente, mas desejava ardentemente algo mais. E prometeu-se esperar.

Passou um par de anos, e a situação inverteu-se: continuavam amigos e confidentes, mas ela conhecera entretanto outro homem e apaixonara-se, enquanto ele descobrira que a sua namorada o traía. Maldizendo a sua triste sorte, ele submeteu-se aos murros no estômago que levava de todas as vezes que ela falava do outro, ou quando os via juntos. Nada mais lhe restava senão sorrir e fazer de conta que tinha outros interesses.

Com o passar do tempo, foram-se afastando. Ela sentia-se mal quando ele estava presente, ele deixou a universidade por uns meses para trabalhar noutros projectos. Um outro par de anos depois, voltaram a encontrar-se casualmente. E não pensaram duas vezes: numa semana, ela mudou-se para casa dele, e começaram a construir um lar. Afinal, parecia que o destino dava realmente mais oportunidades àqueles que realmente se amam...

Primeiro, foi a rotina, os horários de trabalho desencontrados, os projectos que não podiam recusar, o cansaço. Tudo o que ela queria era chegar a casa, jantar, e deitar-se no sofá a ver televisão. E ele, obcecado com maquetas e com o dinheiro, não saía do escritório. Deitavam-se lado a lado sem dizer uma palavra. Ela sabia que ele a amava, portanto não precisava de o ouvir; ele amava-a, não precisava de lho dizer – podem os sentimentos realmente sobreviver sem serem enunciados? Não demorou muito para que ambos deixassem de conseguir comunicar, o que levou a que discutissem constantemente. Sem planos, ela engravidou, e ambos pensaram que a relação iriam mudar para melhor com esta evolução. Passara-se um ano e meio desde que se tinham juntado.

O filho nasceu, e os momentos iniciais de alegria converteram-se em confusão e caos. Noites sem dormir, excesso de trabalho, demasiada televisão e café, demasiados gritos e pouca compreensão mútua. Quando o bebé fez um ano, a sua vida acalmou um pouco, e decidiram e viajar para reacender a chama. Previsivelmente, foram passar duas semanas a Paris, e previsivelmente, perceberam que não havia chama nenhuma para acender. Dois estranhos deitados na mesma cama, olhando para o tecto do quarto, em silêncio. Não sabiam sobre o que conversar e não sabiam o que queriam. Ela pensava em horários de museus, fotos que queria tirar, como estaria o seu filhote, compras para ela e para a família... Tudo o que ele queria era deambular por Paris e ver a arquitectura da cidade, como tantas vezes o tinham feito juntos. Não queria pensar em nada mais, muito menos no porquê de não lhe conseguir dar a mão naquele preciso momento.

Os anos seguintes foram uma misto de discussões e de silêncios, adequadamente escondidos da família e dos amigos, até ao dia em que ele arrumou uma mala com roupa e saiu de casa. O divórcio seria assinado seis meses depois.

“O que é que correu mal?”
Ninguém sabia que, cinco meses depois de estar a viver com ela, conhecera uma rapariga no trabalho. Ninguém sabia o que ambos tinham sentido quando se viram pela primeira vez, nem tão pouco imaginavam que tinham tido um caso durante duas semanas. Um caso que ele terminara porque acreditava que amava a sua namorada.

Ninguém poderia prever que se voltariam a ver, anos depois, no momento em que ele voltava de Paris com a sua mulher. E ninguém se apercebeu de que ela o esperava no café, quando ele acabou de assinar os papéis de divórcio...

Saturday, August 15, 2009

A nossa humanidade

A Time Out n. 98 traz um artigo que achei fenomenal; traçar o perfil dos engates em Lisboa. Este trabalho veio como um tsunami de encontro aos meus próprios pensamentos em relação ao tema, tendo em conta que eu também ando aí. Segundo este estudo informal, engatar na noite de Lisboa é fácil, tanto para homens como para mulheres, e parece até que o é ainda melhor quando mete estrangeiros à mistura. Ou seja, um tuga estará sempre mais inclinado a enrolar-se com um turista do que com outro tuga. O que é nacional é bom? A mim, cheira-me a provincianismo esturricado, do tempo das suecas e das francesas a fazer topless na Costa da Caparica. Aparentemente, a mulher portuguesa estaria demasiado ocupada a cozinhar, a fazer o bigode e a lançar olhares de reprovação a quem mostrava mais do que o tornozelo no adro da igreja... É evidente que os tempos mudam, mas pelos vistos as mentalidades não, porque continua a ser uma questao de auto-estima e de status andar pendurado a um americano loiro, ou a uma eslovaca ainda mais loira.

Outro dado interessante que o artigo foca é o de que, embora o engate seja muito fácil, quem busca mais do que o suprir de necessidades biológicas típicas da espécie tem a vida muito mais dificultada. Ou, como eu costumo dizer, pichas há muitas, mas homens é que há poucos. Aparentemente, as pessoas têm uma extrema dificuldade em relacionar-se devido à bagagem emocional que transportam com elas, sendo portanto mais fácil viver com uns quantos one-night-stands na consciência, do que com a memória de relações falhadas. O peso do dia-a-dia, a crise (?), a rotina, as carreiras e essas coisas todas tiram a tesão à coisa. Mais, e isto é sério: a fidelidade também anda pelas ruas do Bairro Alto, tendo já passado por melhores dias. não é nada invulgar ver a malta a dar uma de amante latino (e latina, que isto toca a todos), com a monga (ou mongo) em casa a ver televisão. Na verdade, quem sabe? Se calhar, os ditos-cujos estao na esquina acima a fazer exactamente o mesmo.

A minha experiência diz-me que estou mal-habituada: gosto de me sentar ao balcão de um bar a beber qualquer coisa, e gosto de conhecer as pessoas à minha volta, sem esperar levar alguém para casa. Erro crasso, porque é muito provável que me queiram levar a mim para casa, o que é lamentável, dada a minha boa-vontade em conhecer gente.

Ao mesmo tempo, por muita vontade de rir que tenha ao analisar esta radiografia da nossa sociedade (e em grande parte, da dos outros também), não consigo deixar de me sentir triste com a mediocridade das pessoas. Entristece-me o facto de as pessoas em geral andarem por aí a passear-se de copo na mao, pintando uma auto-imagem estilo pavão (cauda bem aberta para mostrar o uau em si), para satisfazerem necessidades que, no fundo, não passam de falácias para encobrir a sua própria solidão. O flirt, o engate, o sexo, isso é tudo fantástico, mas não tem piada nenhuma se não acarta em si qualquer tipo de sentimento. Nesse caso, representa uma postura egocêntrica, básica, vazia e inútil.
A maior parte das pessoas com que me relacionei nessa base desde que me vi numa estação de comboios com a minha vida em caixas corresponde inteiramente ao perfil acima descrito: monga em casa (e quando sem monga em casa, monga fantasma na sua cabeca), cauda de pavão em leque mostrando o quao bons foram há não sei quantos anos atrás, ansiosos por consumar mais uma fetichada. De resto, nada. Absolutamente nada. Existe sempre uma desculpa emocionalmente forte (aparentemente!) para que os laços não se estreitem. E é com alguma mágoa que tenho de me inserir neste grupo, porque eu também já o fiz. Só que pergunto-me se alguma destas pessoas teve os problemas de consciência que eu tive ao abandonar de certa pessoa ao raiar do dia.

Acho que este é um exemplo numa escala muito doméstica (de alcofa!) de como há pessoas cuja humanidade simplesmente desapareceu. Pessoas que olham para os outros como um meio para atingir um fim, neste caso, satisfação do ego e satisfação sexual. Por isso é que é tão dificil separar o trigo do joio, e encontrar alguém que seja, ainda, um pouco humano – com tanto pavão para aí de copo na mão, não admira...

Thursday, August 13, 2009

Príncipes, Princesas, Sapos & Sapas

Desde que me separei, e entrei no maravilhoso mundo das pessoas solteiras ( o "mercado", para muitos ), que existe uma expressão recorrente na boca de todos: há que se beijar muitos sapos até se encontrar um príncipe.

Eu penso mais que é preciso beijar muitos príncipes até se encontrar o sapo neles.

Nao sei se é um defeito das pessoas em Lisboa ( e lá estou eu a dizer mal da cidade... ), ou se é um mal generalizado do nosso tempo, mas normalmente as pessoas relacionam-se procurando retirar algo umas das outras. Esse "algo" de que falo tem a ver, regra geral, ou com sexo ou com dinheiro. Há nove meses atrás, vi-me numa estação de comboios nesta cidade, com toda a minha vida em caixas e, desde então, tenho tentado criar uma nova vida. Uma nova casa - um lar -, um novo emprego, novos amigos, sem esquecer todos aqueles que, por algum motivo, terao ficado para trás. E no "novo", tenho-me deparado com esta triste realidade daqueles que assumem que lhes quero tirar um pedaço, porque afinal, é o mesmo que querem de mim.

Durante o período em que esbracejava de alegria, e que gritava "SOLTEIRAAAAA!!!!BORA LÁÁÁÁÁ", o facto de dar algo nestes termos não me importava muito. Era o esperado, de certa forma desejado, e muito embora fosse deixando as suas mossas, nada era realmente significativo. Ter uma vida em construção implica muitas vezes que se tenha de repensar as suas fundações e cometer erros de arquitectura. Contudo, tudo tem um preço e, no meu caso, penso que esse preço é um extraordinário cansaço e fastídio em relação ao que espero das pessoas.

Nem tudo tem a ver com o aspecto sentimental da coisa: contrariamente ao que poderia alguma vez imaginar, sou uma rapariga solteira muito feliz com a minha condição. O meu maior medo - solidão - afinal era uma desculpa patética para impedir o meu desenvolvimento pessoal.
Mas provei-me que, mesmo quando dou um beijinho na bochecha de um príncipe, aparece um sapo. E essa nem é a parte assustadora: às vezes, sai-me uma cascavel, desejosa de espalhar o veneno do desprezo pelas pessoas. São sempre as mesmas desculpas: a falta de tempo, a falta de "disponibilidade emocional", a falta de interesse em geral, e demasiadas vezes, o silêncio total e desconcertante, a falta de resposta.

Penso muitas vezes que, um dia, vou-me fartar de ser uma pessoa simpática, e que vou ter de usar a mesma máscara arrogante e antipática que geralmente as pessoas têm tendência para mostrar. O que é uma pena, porque acredito que existem pessoas positivas que vale a pena conhecer e deixar entrar na minha vida - pessoas que sentem o mesmo que eu e que também estão encarceradas nesta forma de vida de defesa e contra-ataque. Pessoas cujo ego tem um tamanho normal e que estão dispostas a viver, em vez de mentirem a elas próprias, e por consequência, aos outros.

Encontrar um príncipe ou uma princesa no meio de sapos? Toda a gente pertence à realeza, até se verem as verrugas por baixo de tanta maquilhagem...

Wednesday, August 12, 2009

Gente com pancada

(em ordem aleatória)

Gosto de sapatos. Gosto de roupa, preferencialmente peças fora do vulgar que digam como é que me estou a sentir nesse dia.
Gosto de gelado de frutos silvestres. Gosto de me fechar em casa e de não falar com ninguém, mas também gosto de falar pelos cotovelos. Gosto de ouvir gente com pancada e as suas teorias malucas. Gosto de ouvir gente normal falar sobre coisas sem importância.
Gosto de homens. Gosto de sushi e de comida vegetariana. Gosto de fumar cigarros. Gosto de beber cerveja sem álcool.
Gosto de computadores. Gosto da Internet e da ideia de viver numa perspectiva global. Gosto de vidas virtuais em que toda a gente pode ser aquilo que não pode ser na vida real. Gosto de escrever, e gosto de ler o que os outros escrevem, mesmo quando é lixo.
Gosto do som do mar, e de mergulhar debaixo das ondas. Gosto de me deitar na relva na Gulbenkian a ouvir música. Gosto de fazer Yoga, principalmente quando isso implica torcer-me toda.
Gosto de bichos de quatro patas, e até de alguns de duas patas.

Gosto de me rir às gargalhadas. Gosto de me sentir melancólica e de chorar ocasionalmente. Gosto de dançar e de fazer figuras idiotas, gesticular e caretas. Gosto do meu cabelo e de me pentear todos os dias de uma forma diferente.
Gosto do cabelo dos outros, é o primeiro traço que me chama a atenção. Gosto de falar quatro línguas ao mesmo tempo numa frase, porque me apetece. Gosto de ser intuitiva e de ser curiosa.

Gosto de cócegas, desde que não sejam nos pés. Gosto de ver as pessoas a sorrir, e de as fazer rir. Às vezes, também gosto de as fazer chorar, mas muito raramente. Gosto de conduzir à noite sem destino, por Lisboa. Gosto das coisas simples, mas as coisas complicadas também me agradam. Gosto de quebra-cabeças e de surpresas. Gosto de lógica, mas gosto mais ainda da experiência.
Gosto de meter o nariz onde não sou chamada.

Gosto de ter borboletas na barriga. Gosto de estar no controlo das situações, mas também gosto da vertigem de me tirarem o tapete de debaixo dos pés. Gosto de esculturas em ferro forjado, de cinema e de quadros coloridos.
Gosto da rotina, principalmente quando a rompo. Gosto de viajar e de o fazer ao contrário dos turistas normais.

Gosto de beber muito café. Gosto de beber muitos sumos, mas prefiro sumo de ananás.

Gosto de ser especial. Gosto de estar onde estou, e de ter a consciência de que estou a mudar todos os dias, com todas as coisas positivas e negativas que isso implica.

E acredito em milagres, acho que já vi alguns.

These are a few of my favourite things. So deal with it.

Tuesday, August 11, 2009

Quarenta minutos entre agora e a uma da manhã

Fumo demais, mas não bebo.
Escuto demais, não falo o suficiente.
Canções e estrelinhas, às vezes vejo tudo a brilhar.
Ainda estou a tentar perceber o que estou aqui a fazer.

Para escrever má poesia, prefiro dormir.
Para dormir, preferia ter-te ao meu lado,
sejas tu quem fores.
Serve qualquer peito peludo de Homem?

Podia ficar todo o dia deitada no sofá
de olhos fechados
a Imaginar
o que seria a Vida contigo.

A Vida sem ti, isso eu sei muito bem como é:
é boa, mas falta-me o cheiro a Homem.

Égoiste, Hugo Boss.